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PM que socorreu bebê engasgado com leite há dois anos reencontra a criança e a mãe em SC
Balneario Camboriu, 05-04-2011

A criança se afogou durante a amamentação quando tinha apenas sete dias de vida. Se Deus escreve certo por linhas tortas, no dia 3 de abril de 2009, há exatos dois anos, ele rabiscou alguns traços numa rua simples do Bairro dos Municípios, em Balneário Camboriú, quando uma jovem de 21 anos saiu tropeçando sobre as pernas pela porta do número 747 em direção à calçada.

 

Desesperada e aos berros, suplicava por socorro, por um milagre. Com apenas sete dias de vida, a filha da mulher engasgara-se durante a amamentação e parara de respirar. A criança foi salva e reencontrou o seu herói, pela primeira vez, na última sexta-feira.

 

Naquele dia, três policiais abordavam cinco homens suspeitos de tráfico de drogas no momento em que escutaram os gritos da mãe Luana Tatiana Palmeira de Castro. Os soldados Denício Francisco Rosa, 24 e Agostinho Tadeu Vieira, 41, largaram o terceiro companheiro e partiram em apoio à recém-nascida Djenifer Castro Ferreira, de 47 cm e apenas 2,9 quilos.

 

— Ela estava em estado grave, toda roxinha, havia parado de respirar e desmaiou — descreveu Denício.

 

Nenhuma ambulância poderia atender rapidamente a ocorrência pois estavam ocupadas. Coube aos dois decidir o futuro da criança. Os quatro embarcaram na viatura rumo ao hospital. Ao comando do volante, Denício acionou sirenes, giroflex, buzina, pediu — por meio de rádio — apoio para liberar as ruas e avenidas.

 

— Só faltou botar a cabeça para fora e berrar — brincou.

 

No banco de trás, Tadeu trazia a menina ao colo, e a mãe batia na cabeça do motorista implorando pressa num carro que andava a mais de 100 km/h. Tadeu fez massagem cardíaca e respiração boca-a-boca, sem resultado.

 

— Se soprando não vai, tentar sugar — orientou Denício.

 

Na segunda sucção, veio para fora o leite, e a menina chegou chorando ao hospital. O choro que para todos foi um grande alívio. A rapidez e a eficiência do socorro salvaram a vida da menina. Oito minutos passaram-se entre os primeiros berros da mãe e o atendimento hospitalar. Não é exagero dizer que aquela inesperada manhã provocou marcas permanentes em todos. Ao reencontrar Luana e Djenifer, pela primeira vez após dois anos, Denício segurou o choro.

 

— Ao encararmos situações tristes, como uma pessoa que morre, penso nessa situação para começar a trabalhar de volta e ver que vale a pena viver. Não sei até quando continuarei na polícia, ou para onde vou, mas sei que pelo menos uma vez na vida salvei alguém, e esse alguém valeu a pena. Nunca mais sairá da memória.

 

A menina tímida, de cabelos cacheados, ganhou de Denício uma boneca nova. A idade ainda não permite a pequena entender o motivo do presente — a comemoração do segundo aniversário do salvamento.

 

— Este é mais importante que o oficial — definiu a mãe.

 

Em troca, o policial pediu uma boneca velha de Djenifer para guardar uma lembrança boa do trabalho nas ruas, um amuleto da sorte. O reencontro também serviu para aliviar Luana, que cobrava-se por, até então, nunca ter encontrado novamente os heróis para um agradecimento mais formal.

 

— Os dois são os anjos da guarda da vida dela. Eles vieram aqui para rua por uma coisa ruim e acabaram salvando a minha filha. Deus colocou os dois na minha vida porque Ele escreve certo por linhas tortas.

 

O Policial Militar Agostinho Tadeu Vieira, 43, não pode comparecer ao encontro. Por telefone, conversou com a reportagem do DC e relembrou aquela manhã:

 

— Eu tenho dois filhos que também tiveram problemas de refluxo. Então, isso me deu mais tranquilidade para ajudar. Ela estava quase em falência, sem sinais. A gente tentou contato com as ambulâncias, mas todas encontravam-se em ocorrência. Aí, decidimos que era com a gente mesmo — conta.

 

— Precisávamos fazer alguma coisa, se não todo trabalho seria em vão. No caminho ao hospital, pedimos para a Central de Operação da Polícia Militar apoio para desobstruir as ruas. Aí, fiz os procedimentos para desengasgar a menina. Só a fato de ver uma mãe te olhar nos olhos e dizer muito obrigado já é gratificante. Hoje em dia é difícil ver alguém olhar para o policial dessa forma.



(Reportagem e foto: Pedro Rockenbach – publicada no Jornal Diário Catarinense, edição do dia 03/04/2011 :: Publicação: Jamila Araujo da Seção de Comunicação Social do 12º BPM)

http://www.pm.sc.gov.br/website/rediranterior.php?act=1&id=9731

 

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