Dois amigos, Mario e Jonas, viajavam pelas extensas estradas, que circulam as tristes e sombrias montanhas da Pérsia. Ambos se faziam acompanhar de seus ajudantes, servos e caravaneiros. Chegou certa manhã, às margens de um grande rio barrento e impetuoso, em cujo seio, a morte espreitava os mais afoitos e temerários. Era preciso transpor a corrente ameaçadora. Ao saltar de uma pedra o jovem Mario foi infeliz, falseando o pé, precipitou-se no torvelinho espumante das águas em revolta. Teria ali padecido, arrastado para o abismo, se não fosse Jonas. Este, sem um instante de hesitação, atirou-se à correnteza e, lutando furiosamente, conseguiu trazer a salvo o companheiro de jornada. 
Que fez Mario? Chamou, no mesmo instante, os seus mais hábeis servos e ordenou-lhes que gravassem na face mais lisa de uma grande pedra, que perto se erguia, esta legenda admirável: “Viandante! Neste lugar, durante uma jornada, Jonas salvou heroicamente seu amigo Mario".
Isto feito prosseguiu com suas caravanas. Alguns meses depois, de regresso às terras, novamente se viram forçados a atravessar o mesmo rio, naquele mesmo lugar perigoso e trágico, e como se sentissem fatigados resolveram repousar algumas horas à sombra acolhedora da laje, que ostentava bem no alto a honrosa inscrição lapidada anteriormente.
Sentados na areia clara, puseram-se a conversar. Eis que, por um motivo fútil, surge, de repente, grande desavença entre os dois companheiros. Discordaram, discutiram e Jonas, exaltado, num ímpeto de cólera, esbofeteou brutalmente o amigo.
Que fez Mario?
Que farias tu, em seu lugar? Mario não revidou a ofensa. Ergueu-se, e tomando tranqüilo o seu bastão, escreveu na areia clara, ao pé do negro rochedo: “Viandante! Neste lugar, durante uma jornada, Jonas, por motivo fútil, injuriou gravemente o seu amigo Mario”.
 
Surpreendido com o estranho proceder, um dos ajudantes de Mario observou respeitoso:
Senhor! Da primeira vez, para exaltar a abnegação de Jonas, mandaste gravar na pedra, para sempre, o feito heróico. E agora que ele acaba de ofender-vos tão gravemente, vos limitais a escrever na areia incerta, o ato de covardia!
A primeira legenda ficará para sempre e todos os que transitarem por este sítio dela terá notícia, esta outra, porém, riscada no tapete de areia, antes do cair da tarde, terá desaparecido como um traço de espumas entre as ondas buliçosas do mar.
Respondeu Mario:
É que o benefício que recebi de Jonas, permanecerá para sempre, em meu coração.
Mas a injúria, essa negra injúria, escreve-a na areia, com um voto, para que, se apague e desapareça mais depressa, das areias e de minha lembrança.
Assim é, meu amigo! Aprenda a gravar na pedra, os favores que receberes os benefícios que te fizerem, as palavras de carinho, simpatia e estímulo que ouvires.
Aprende, porém, a escrever na areia, as injúrias, as ingratidões, as perfídias e as ironias que te ferirem, pela estrada agreste da vida. Aprenda a gravar assim, na pedra, aprenda a escrever assim, na areia, e serás feliz! Não guarde rancor de ninguém, pois se assim o fizer você é que sofrera as conseqüências, as quais são drásticas. Contudo, perdoe para que as conseqüências sejam benéficas.
 
José Carlos Mariano
Coordenador do GRUPO de Palhoça

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